Nós
Estávamos frente a frente, como inúmeras vezes.
Nervoso, procurava fugir os meus olhos do seu corpo. Das suas pernas bem torneadas, do volume que se formava naturalmente na parte de frente da sua calça.
Parei, sem palavras, bem diante de um sorriso de dentes bem feitos.
- Um nó de gravata?
Confirmei, sentindo-me meio ridículo com aquele pedaço de pano na mão.
- E você não sabe dar nó em gravata?
A voz me fazia uma pergunta simples, que meu tesão entendia de outro jeito. De outros jeitos.
- Exatamente. Por isso vim aqui a essa hora. Não quero que ninguém saiba que eu não sei dar nó em gravata.
O sorriso. Um sorriso honesto e aberto que entendia muito bem que eu não fui ali dar nó em gravata.
- Todo mundo já foi. Precisei terminar um relatório. Pra amanhã, acredita? A gente recebeu em cima da hora.
Ele dizia isso debruçado sobre o computador. A sua bunda, firme e decidida, se pronunciava sobre a calça fina, de uma boa marca.
Disse também algumas outras coisas mais, só que não ouvi. Andava hipnotizado por aquele traseiro.
- Que nó você quer?
Acordei.
- Como é?
- O tipo. Que tipo de nó você quer.
Um grande, firme e apertado.
- Ah, não sei, um clássico, né?
Ele sorriu mais uma vez. Touché.
- Certo.
Sem pedir licença, ele se colocou por trás de mim com a gravata na mão. Se eu não tivesse de pau duro ia parecer uma cena de um filme antigo de Hitchcock.
- É assim.
Segurou as minhas mãos nas dele e seguiu mostrando o caminho dos lados da gravata. Enquanto eu sentia o leve roçar do tecido da sua calça na minha.
A calça dele estaria menor, como a minha, ou era coisa da minha cabeça? Das minhas cabeças.
Achei que por um instante ele parou, com as mãos sobre as minhas. Senti o calor dos seus dedos e pedi que aquele momento durasse pra sempre.
- É isso. Deixa eu ver como ficou.
Se eu tivesse pensado na hora, não teria me virado, porque, de uma forma ou de outra, meu pau chegaria primeiro.
Mas não pensei. E me virei.
Por um milésimo de segundo, percebi que os olhos dele se voltaram para a minha calça. E o sorriso franco deu lugar a uma leve malícia.
- Gostou?
Gostei. Muito.
Por um segundo paramos e não havia mais nada a dizer. Ou se agiria ou não.
Estávamos no trabalho. Pela primeira vez, raciocinei.
- Ficou ótimo, cara, obrigadão, viu? - disse, meio sem jeito, testando a gravata.
- Aprendeu como se faz um nó? – perguntou, refestelado na cadeira, pernas abertas, era a cara do Denny, o namoradinho de Izzye que morre do coração em Grey´s Anatomy.
- Acho que sim.
- Qualquer coisa aparece. Posso fazer outros nós.
Sorri. Já não tínhamos mais motivos para esconder os paus duros.
Agradeci e me despedi. Mas não precisei me virar para sentir o seu olhar me acompanhando ao descer as escadas.
AMORE, ESSA É UMA OBRA DE FICÇÃO, QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS E PESSOAS É UMA MERA COINCIDÊNCIA