Um lugar para os que são, os que ainda não são e os que não vão chegar a ser, conversarem e trocarem experiências.

Monday, July 23, 2007

O pacto

Ponta Negra. O sol indo embora de fininho e a gente caminhando de leve.
- Amore...
- Oi.
Ele ainda olha discretamente pros lados, checando se alguém me ouviu chamando-o assim. Eu percebo, mas entendo. Coisas de começo.
- Sabe que eu ainda fiquei na dúvida?
-Dúvida?
- De você.
-Que bom. Significa que eu ainda deixo dúvidas, né?
- Heha. É. Eu ficava dizendo pra mim mesmo que não tinha nada a ver, que era coisa da minha cabeça. Poxa, mas me mandar boa noite e durma bem... Coisa de fresco, rapá!
- Ah, mas, mas...
- Mas nada.
- Tá.
Silêncio cúmplice.
- E hoje que se faz?
-Er...Sexo?
- Hauhauha. Não, queria fazer algo diferente!
- Gaiato!
- Uhm..Sargent Pepper´s novo?
- Não, odeio aquele lugar.
- Como assim?! É perfeito lá.
- Nem acho. Nem curto barzinho não.
- Tá, enjoado, a gente vê então.
- Tá, bora, bora, pode ser.
Adoro começo de namoro.
- Ei.- Ele me sussurra
- Oi, lindão.
- Queria te dar um beijo.
- Sinta-se beijado.
Eu sorrio ao dizer isso, olhando-o bem fundo dentro dos olhos.
- Amo você.
Palavras grandes, palavras grandes! Ai, meu São Sebastião. Muito cedo pra elas? Talvez. Mas dizer o quê, quando a língua já não é mais nossa?
-Eu também, baby.
E aperto de leve a sua mão, não me importando nem um pouco com quem possa estar vendo.
- Ei.
- Oi.
- Vamos fazer um pacto?
Sua voz soa séria.
- Er...Vai ter sangue no meio?...
- Huhauahhah
- ....É que eu desmaio com sangue...
- Não!
-Então fala.
Ele, também sem se importar com quem estivesse vendo, aperta a minha mão, me olha no fundo dos olhos, me olha no fundo da alma.
- Quem ficar careca em segundo lugar não pode abandonar o que ficou em primeiro, tá?
E eu caio na risada. E ainda fico rindo meio de leve algum tempo depois. Quando ele diz que tem um ano de vantagem porque é um ano mais velho.
Aí eu me lembro porque namoro. Aí eu me lembro porque AMO esse moço.


*P.S. - A foto é de site (
http://www.vancubz.org/). Um clubinho de ursos no Canadá que de vez em quando organiza umas festinhas pra se confraternizarem!

Thursday, July 05, 2007

Carta para além da cidade



"Há alguns dias, Deus – ou isso que chamamos assim,
tão descuidadamente, de Deus – enviou-me certo
presente ambíguo: uma possibilidade de amor.
Ou disso que chamamos, também com descuido e
alguma pressa, amor."
Caio Fernando Abreu


Sentado no teclado, cercado de prazos por todos os lados, ligações e recados em post-its. Foi quando eu pensei em você. Eram exatamente quatro e meia da tarde quando pensei em você. Sei disso porque vi a hora quando peguei o celular, em busca de mais uma daquelas mensagens suas tão nossas.

Seguindo a cartilha das relações de hoje, seguindo, a cartilha do bom senso, tento evitar palavras grandes, como "amor", "sempre", "futuro" e "dividir-apartamento-conta-no-banco-depois-de-adotar-criança-deficiente." E evito, engolido-as de volta com cerveja ou suco de laranja, quando insistem em escorregar pela minha boca, direto aos seus ouvidos.

Mas não consigo, simplesmente não consigo, abrir mão de outras, como saudade. E carinho. E respeito.

É por isso que hoje me equilibro em uma corda bamba, galeguinho, uma corda bamba firmemente estendida sobre aquele bom senso do qual eu falei no início dessa lesadinha carta. Uma corda bamba guiada por uma precisão de microscópio eletrônico, pois eu sei que entre ter você ao meu lado, como meu namorado, e lembrar de você daqui a alguns anos: um carinha meio complicado que eu conheci um dia, existem apenas alguns míseros nanons de distância.

De acordo com a cartilha das relações maduras/cínicas/modernas, tenho a mais plena consciência de que deveria respirar fundo, puxar o freio de mão, fazer um ar blasé e dizer que "tudo bem", seja o que Deus quiser, vamos deixar as coisas rolarem. E é o que eu digo. Mas, não, meu anjo, não é o que eu sinto. E esse sentimento, a cada dia mais, me preenche. Se isso é bom? Não sei, mas espero sinceramente que seja.

Termino por aqui, baby, ainda evitando palavras grandes, como amor e sempre. Mas balbuciando em seu ouvido algumas pequenas e fortes, como paixão e cuidado e carinho.

E saudade.

Que seja doce, meu querido.