Um lugar para os que são, os que ainda não são e os que não vão chegar a ser, conversarem e trocarem experiências.

Thursday, April 19, 2007

É isso aí



Quase a única boate freqüentável do nosso interior. Grande festa, lançamento e filmagem (ai, Jeová!) de DVD de um artista/gay da terra. Eu estava quase convencido que a sensação de reencontrar o ex fosse só sensação, até que.
- Ih, David...
- Oi.
- Olha quem tá na porta!
Ele! Cercado de amigos em comum.
E agora? Correr, ficar? Ficar correr?
- Vamos logo falar com eles de uma vez nessa muléstia!
Apertos de mão carregados de amargura, pelo menos de minha parte.
- Oi.
Olha, já faz um tempo que eu queria falar com você sobre isso...
- Oi.
Você não pode terminar um namoro de três anos assim!
- Tudo bem?
Você tá vendo que as coisas não são mais como antes.E tem a minha viagem pro Rio próximo ano.
- Tudo.
Nem são e nem vão ser nunca, cara! Não se iluda!
- Vou lá, tchau.
Me dá um abraço?
- Como é que você tá? – Perguntou o meu amigo que tinha vindo comigo.
- Com sede, vamos tomar uma cerveja.
Como num clipe de uma bandinha emo qualquer, o fim do nosso relacionamento passou voando pela minha cabeça. A ligação recebida dentro do carro, a chuva, o tempo, a renovação no dia posterior, o retorno estranho, a nova ligação com o mesmo teor, a manutenção do carnaval no Rio, o fim na beira do metrô do Largo do Machado, o encontro com ele na Farme de Amoedo no dia de seu aniversário, as mágoas devidamente afogadas na Le Boy, o retorno à cidade, o reacostumar-se à nova condição.
Queria dançar, paquerar, tirar onda, mas o novo assunto surgiu com todo o esplendor dos seus metro e oitenta e seis naquela noite. E tinha chegado pra ficar. Busquei outro amigo na porta da boate.
Bebi mais um pouco da, vá lá, cerveja (era nova schin!), e deixei o torpor me invadir, mas sabem o que dizem, né? Por mais irônico que possa parecer não se deve beber quando estamos tristes. Naquela noite eu descobri o porquê.
Pé ante pé, o outro se aproximava. Feio, bicha, gordo e mal-caráter, como todo carinha que ouse tentar ficar com seu ex.
- Olhali!
- Onde?
- Dando em cima dele. Gorda horrorosa. E ainda tem jeito de fresco esse nojento! Filho da puta.
- Eles tavam se paquerando pelo orkut – sibilou um “amigo”.
-Nojento.
Abri a guarda um pouco e concentrei-me em fugir das câmeras que filmavam o show do artista/performático/gay...ou gueto?
Ficamos mais um pouco do lado mais arejado do lugarzinho e de repente não os vejo mais. Bem, o que os olhos não vêem...
Ok. E se os olhos virem?
Sentados um pouco ao longe, mas não longe o suficiente para desaparecerem estão ambos, trocando beijinhos como dois periquitos apaixonados. Tomara que pegue uma herpes!
Filho da puta!
E a noite vem abaixo. Numa cena digna do efeito bullet time o tempo pára ao meu redor.
Momento Hallmark Channel. Com direito a cara de choro e lata de cerveja amassada na mão.
Merda.
Pouco tempo depois, Deus, cansado de rir de mim, permite que eles se mandem, e me manda um carinha bem fofinho pra afogar um pouco as minhas mágoas. O nome? Acho que Carlos. E fumava. Blergh.
Levo pra casa uma sapa, meu amigo, um carinha, com o mesmo nome do falecido. Meu amigo e o carinha com nome de morto ficam no banco traseiro. Bom.
Tá amanhacendo quando chego em casa.
Sono.
No domingo de manhã acordo com a cena na minha cabeça, como um DVD que começa o disco de onde parou. Merda.
Tento me conter. Não consigo.
“Queria muito que você fosse logo pro Rio”
É o que escrevo na mensagem desnecessária.
Suspiro.
Essa seria uma hora muito, muito boa pra começar a fumar.
*Depois de um longo e tenebroso inverno, estou de volta! Gostaria que o post fosse mais animado, mas quem de "nozes" nunca se sentiu uma Bridget Jones, não é mesmo? Bem, mas prometo que esse foi o único, os próximos serão sobre as aventuras de se estar solteiro! Beijos e abraços distribuídos!