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Wednesday, February 12, 2014

A posição da borboleta


Se você, como eu, sabe o que é fazer a barba aos treze anos e já precisou retocar por mais de uma vez (em um dia) os pelos do rosto, você sabe do que eu estou falando.

O momento certo é quando você meio que se cansa de fazer aquele mix de Cláudia Ohana com Monga e, com o apoio (eu falei pressão?) do namorado, decide então dar uma morte digna à zona de proteção ambiental que você vem cultivando.

Como todo bom cabeludo, e gay old school, você sabe que no peito deve apenas aparar e nas costas tirar tudo. Mas será que dá certo uma total lá onde o sol não bate?

Só há uma resposta...

(Inserir aqui uma música de novela mexicana. Ou de UFC)

Quase empurrado pelo namorado, que se mostra muito interessado na resolução dos fatos, você chega na clínica. Limpa, bonita. Só acho que a recepcionista está sorrindo demais. Como se já soubesse que eu vou...

 - Bom dia.

- Bom dia, moça, é aqui que eu raspo o cu?

Mentira. Só pensei. E bem baixo.

Em frente ao balcão, só perco pra Sophia de Meryl Streep, melhor, pra Macabéia de Clarice. Realmente, nunca fiz isso antes.

Na minha frente tem uma espécie de cardápio, com preços, locais, cores e sabores.

“Eu falo cu ou ânus? Boto um apelidinho...?”

 - Senhor?

- Cu!

- Hein?

-Oi?

Ela percebeu! Droga!

- Se o senhor quiser pode falar os números.

Bendita seja!

- Ok, quero um 114, um 82 e um pouquinho do 23!

- Certo.

Ela anota. Tenho certeza de que ela escreveu. Cu do viado. Certeza! Vaca! Deve ter um cu cabeludo.

- O senhor tem preferência por alguma atendente?

- Não, é minha primeira vez.

“/Seja gentil comigo...”

- Creuza....

“...mais um cu...”

Mentira, ela não disse isso, pensei de novo.

A moça sai sorridente toda empacotada, como se fosse mexer com radiação, e me chama pra entrar na cabine. Olha o papel onde eu tenho CERTEZA de que a outra escreveu cu do viado.

- Ok, senhor, eu vou pegar a cera.

Ela me estende um plástico que se parece muito com um saquinho de lixo bem pequeno, mas é uma cueca transparente.

 Fico só com meu cu ao natural, esperando a hora fatídica.

 - Posso entrar, senhor?

A pessoa me chega com uma panela que eu sinto o calor a quase trinta centímetros e uma colher de pau enfiada. Na panela!

Vontade de trazer um pão e pedir um pouquinho.

 - Vou precisar de sua ajuda.

Morto e enterrado de vergonha, já me deitei de bruços, sem saber o que fazer.

- Segure com as duas mãos.

Votz? E eu sou lá de circo, moça?

- A panela?

- Não, senhor, as náde...

- Ok, ok, ok!

Junto com o relógio, tiro a dignidade e mostro o rapazinho pra moça. Rápa aqui, fia...

 - O senhor vai sentir um pouco...

Caridade de Jesus!

 - Está muito quente, senhor?

Um vulcão é quente, senhora?

- Não contraia, senhor!

Linda do meu coração, eu tenho certeza de que eu não tenho hanseníase no cu, sendo assim, se você enfiar uma colher de pau cheia de cera quente eu vou contrair, sim, vá me desculpando! É uma proteção natural!

- Posso puxar, senhor?

Mulher, puxe não, acho que tá bom assim, eu vou pra casa, deixo na água gelada e...

!!!!!!!!!!

- Senhor?

- ...

- Doeu muito?

Dona Maria, por favor, veja aí nesse papel se não ficou um pedaço do pobizinho,  porque, francamente...tá até dormente agora, certeza que rolou uma biópsia!

Eu pensei que tinha acabado depois que ela inventou de retocar, como se eu fosse a maquiagem de alguém. Mas eu tinha pedido muitos números e completo é completo.

- Senhor...

Eu me sentido a estuprada de Ponta Negra e ainda precisava responder aquele abuso, eu só queria ir pra casa e escorrer na parede me lavando e chorando.

- Vamos fazer a virilha. O senhor fique na posição da borboleta.

Reiôsse!

 - Meu amor, eu não luto kung fu, não faço yoga nem tai chi.

- Junte os pés, segure com as mãos.

E atinja no plexo solar a carrasca que quer te aleijar!

Se eu pensei que o cu doeu, quando o primeiro papel voou do saco quase tive que tomar as minhas bolas da mão dela!

Mas aí terminamos...

Esparramado na cama, agradeci e aguardei ela ir embora.

Lambuzado de creme hidratante de maracujá e talco, encarei os olhares dos outros clientes como quem sai de uma clínica de aborto clandestino.

 - Pode responder à pesquisa, senhor?

Claro.

“NO MEU CU NUNCA MAIS, OUVIU? NUNCA MAIS.”

Resisti à tentação de escrever eu me vingarei!

Poderia rolar processo.

                   

5 Comments:

Blogger FOXX said...

Kkkkkkk, por isso eu uso lâmina! Kkkkkkkk

3:28 AM

 
Blogger FOXX said...

Ps: seja bem vindo de volta, espero que pra ficar

3:29 AM

 
Blogger Homem, Homossexual e Pai said...

fazia tempo que eu não ria tanto! seu texto está perfeito, as onomatopeias, os pesamentos divergentes! parabens, pens que escreve muito pouco! vc tem talento...

mas enm falaou se o namorado gostou do seu sacrificio....rsrsrsr

12:11 PM

 
Blogger Homem, Homossexual e Pai said...

fazia tempo que eu não ria tanto! seu texto está perfeito, as onomatopeias, os pesamentos divergentes! parabens, pens que escreve muito pouco! vc tem talento...

mas enm falaou se o namorado gostou do seu sacrificio....rsrsrsr

12:11 PM

 
Blogger Alan said...

Primeira vez no teu blog e já morri de dar risada. Hahahaha Certeza que volto mais vezes e espero que o namorado tenha gostado. Hahahaha

6:23 PM

 

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