A posição da borboleta
Se
você, como eu, sabe o que é fazer a barba aos treze anos e já precisou retocar
por mais de uma vez (em um dia) os pelos do rosto, você sabe do que eu estou
falando.
O
momento certo é quando você meio que se cansa de fazer aquele mix de Cláudia
Ohana com Monga e, com o apoio (eu falei pressão?) do namorado, decide então
dar uma morte digna à zona de proteção ambiental que você vem cultivando.
Como
todo bom cabeludo, e gay old school,
você sabe que no peito deve apenas aparar e nas costas tirar tudo. Mas será que
dá certo uma total lá onde o sol não bate?
Só
há uma resposta...
(Inserir
aqui uma música de novela mexicana. Ou de UFC)
Quase
empurrado pelo namorado, que se mostra muito interessado na resolução dos
fatos, você chega na clínica. Limpa, bonita. Só acho que a recepcionista está
sorrindo demais. Como se já soubesse que eu vou...
- Bom dia.
-
Bom dia, moça, é aqui que eu raspo o cu?
Mentira.
Só pensei. E bem baixo.
Em frente
ao balcão, só perco pra Sophia de Meryl Streep, melhor, pra Macabéia de Clarice.
Realmente, nunca fiz isso antes.
Na
minha frente tem uma espécie de cardápio, com preços, locais, cores e sabores.
“Eu
falo cu ou ânus? Boto um apelidinho...?”
- Senhor?
- Cu!
- Hein?
-Oi?
Ela
percebeu! Droga!
- Se
o senhor quiser pode falar os números.
Bendita
seja!
-
Ok, quero um 114, um 82 e um pouquinho do 23!
- Certo.
Ela
anota. Tenho certeza de que ela escreveu. Cu do viado. Certeza! Vaca! Deve ter
um cu cabeludo.
- O
senhor tem preferência por alguma atendente?
-
Não, é minha primeira vez.
“/Seja
gentil comigo...”
-
Creuza....
“...mais
um cu...”
Mentira,
ela não disse isso, pensei de novo.
A
moça sai sorridente toda empacotada, como se fosse mexer com radiação, e me chama pra entrar na cabine. Olha o
papel onde eu tenho CERTEZA de que a outra escreveu cu do viado.
-
Ok, senhor, eu vou pegar a cera.
Ela
me estende um plástico que se parece muito com um saquinho de lixo bem pequeno,
mas é uma cueca transparente.
Fico só com meu cu ao natural, esperando a
hora fatídica.
- Posso entrar, senhor?
A
pessoa me chega com uma panela que eu sinto o calor a quase trinta centímetros e
uma colher de pau enfiada. Na panela!
Vontade
de trazer um pão e pedir um pouquinho.
- Vou precisar de sua ajuda.
Morto
e enterrado de vergonha, já me deitei de bruços, sem saber o que fazer.
-
Segure com as duas mãos.
Votz?
E eu sou lá de circo, moça?
- A
panela?
- Não,
senhor, as náde...
-
Ok, ok, ok!
Junto
com o relógio, tiro a dignidade e mostro o rapazinho pra moça. Rápa aqui,
fia...
- O senhor vai sentir um pouco...
Caridade
de Jesus!
- Está muito quente, senhor?
Um
vulcão é quente, senhora?
-
Não contraia, senhor!
Linda
do meu coração, eu tenho certeza de que eu não tenho hanseníase no cu, sendo
assim, se você enfiar uma colher de pau cheia de cera quente eu vou contrair,
sim, vá me desculpando! É uma proteção natural!
- Posso
puxar, senhor?
Mulher,
puxe não, acho que tá bom assim, eu vou pra casa, deixo na água gelada e...
!!!!!!!!!!
-
Senhor?
-
...
- Doeu
muito?
Dona
Maria, por favor, veja aí nesse papel se não ficou um pedaço do pobizinho, porque, francamente...tá até dormente agora, certeza que rolou uma biópsia!
Eu pensei
que tinha acabado depois que ela inventou de retocar, como se eu fosse a
maquiagem de alguém. Mas eu tinha pedido muitos números e completo é completo.
- Senhor...
Eu
me sentido a estuprada de Ponta Negra e ainda precisava responder aquele abuso,
eu só queria ir pra casa e escorrer na parede me lavando e chorando.
-
Vamos fazer a virilha. O senhor fique na posição da borboleta.
Reiôsse!
- Meu amor, eu não luto kung fu, não faço yoga
nem tai chi.
-
Junte os pés, segure com as mãos.
E atinja
no plexo solar a carrasca que quer te aleijar!
Se eu
pensei que o cu doeu, quando o primeiro papel voou do saco quase tive que tomar
as minhas bolas da mão dela!
Mas
aí terminamos...
Esparramado
na cama, agradeci e aguardei ela ir embora.
Lambuzado
de creme hidratante de maracujá e talco, encarei os olhares dos outros clientes
como quem sai de uma clínica de aborto clandestino.
- Pode responder à pesquisa, senhor?
Claro.
“NO
MEU CU NUNCA MAIS, OUVIU? NUNCA MAIS.”
Resisti
à tentação de escrever eu me vingarei!
Poderia
rolar processo.
5 Comments:
Kkkkkkk, por isso eu uso lâmina! Kkkkkkkk
3:28 AM
Ps: seja bem vindo de volta, espero que pra ficar
3:29 AM
fazia tempo que eu não ria tanto! seu texto está perfeito, as onomatopeias, os pesamentos divergentes! parabens, pens que escreve muito pouco! vc tem talento...
mas enm falaou se o namorado gostou do seu sacrificio....rsrsrsr
12:11 PM
fazia tempo que eu não ria tanto! seu texto está perfeito, as onomatopeias, os pesamentos divergentes! parabens, pens que escreve muito pouco! vc tem talento...
mas enm falaou se o namorado gostou do seu sacrificio....rsrsrsr
12:11 PM
Primeira vez no teu blog e já morri de dar risada. Hahahaha Certeza que volto mais vezes e espero que o namorado tenha gostado. Hahahaha
6:23 PM
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