24 quadros por segundo
Hoje eu queria atender ao telefone como Bette Davis e descer uma escada como Gloria Swanson.
Hoje eu queria jurar a um pôr-do-sol com a força de Vivian Leigh e ter Marlon Brando aos meus pés como Kim Hunter.
Hoje eu queria poder guiar um holofote com um simples movimento de pescoço, como Catherine Zeta – Jones e fazer um streaptease na abertura dos créditos, como Jane Fonda.
Hoje eu tava muito afim de tomar o meu café numa esquina deserta, de manhãzinha bem cedo, como Audrey Hepburn.
Hoje eu queria poder aceitar que as coisas podem ser diferentes, como Giulieta Massina e transformar o choro em sorriso.
Hoje eu queria suspirar realizado depois de minha primeira tarde como prostituta, sob o olhar penoso de uma camareira, como Catherine Deneuve.
Hoje eu queria tocar fogo em uma cama como Carmem Maura e tomar um pote inteiro de sorvete ao som de “all by myself”, como Reneé Zellweger.
Só hoje eu queria desprezar com um movimento de sobrancelhas como Meryl Streep e fazer um feitiço vudu com Cher, Michelle Pfeiffer e Susan Sarandon.
Hoje eu queria ver um filme sozinho, como Mia Farrow e esquecer por alguns instantes da minha vida real.
Só hoje eu queria me conformar, como Julia Roberts, atendendo àquele celular imenso!
E dar tchauzinho, com as costas das mãos, sem nem me virar, como Liza Minelly.
Eu queria conseguir me despedir como Ingrid Bergman, derramando apenas uma ou duas lágrimas.
Mas acima de tudo.
Acima de tudo eu queria reencontrar como Barbra Streisand e ter o peito de decidir esquecer, arrumando levemente o cacho de Robert Redford com a mão.
Porque ontem nos vimos, meio por acaso. E eu quis perguntar um monte de coisas. Quis que ele me dissesse exatamente um monte de coisas.
Mas aí eu pensei nessas moças todas, sabe? E todas elas disseram que não.
E eu engoli tudo que tinha pra dizer. Porque, afinal de contas, não mudaria nada, né?
E eu não saí com ele. Nem com minha amiga e o amigo (namorado?) dele que estavam junto e iam a uma boate.
E fui pra um barzinho que EU gosto.
E me cerquei de meus irmãos. Aquele povo, aquele, que te ouve contar as mesmas histórias vezes seguidas e sempre tem saco de repetir os conselhos. Aquele povo que nem sempre concorda contigo, às vezes briga de tapas, mas que por isso mesmo, te ama demais.
Tá ruim quissó.
Mas eu pensei em Penélope Cruz e umas amigas, carregando sozinhas uma geladeira imensa.
Sem homem nenhum, acredita?
E eu percebi que passa.
Passa.