Um lugar para os que são, os que ainda não são e os que não vão chegar a ser, conversarem e trocarem experiências.

Wednesday, May 16, 2007

Quem avisa...


Faróis apagados. Dentro do carro. Rua dele. Meio deserta.
- Você não vai querer me conhecer.
- Por quê?
-Eu sou um desastre! Um desastre neurótico!
- Hein?
- É. Quer dizer, sou!
- Ah,todos somos.
- Nem todos.
- Quer apostar?
- E se não der certo?
- Um beijo e tchau.
- Aff, e você é frio assim? É isso que você chama de relacionamento? É assim que você quer
me...Tá rindo de quê?
- O.K. Você é neurótico.
- Não tem graça. Eu só não...
- “...tenho certeza se isso vai dar certo.” Nem eu! A gente vai precisar meter a cara.
- E se não der?
- Sobreviveremos.
Pausa dramática
- É muito cedo pra sentir sua falta?
Ele sorriu.
- Não.
- Que bom, porque eu pensei em você o dia todo.
- Pensou?
- Pensei.
- O que a gente tem?
- Eu tive dengue esses dias.
- Palhaço. Não foge da pergunta.
- A gente tá se conhecendo...
- Evasivo...Perigo! Perigo!
- Sincero. Juro. A gente tá se desbravando, vamos dizer assim, pelo menos no meu caso.
- Que coisa mais bandeirante!
- Mas eu senti sua falta hoje. Não de uma companhia. Da sua companhia.
Ele ficava ainda mais fofo quando apertava os olhos, sorrindo, meio Maurício Mattar. Aquela era uma das minhas manias. Associar pessoas bonitas a artistas. Se bem que Maurício Mattar não é tão artista assim, não é, amiguinhos?
- Que bom.
- É.
- David...
- Oi?
- A hora.
- Onze e...cacilda!!!
- Pois é.
- Mas como assim? Eram seis agorinha!
As pessoas interessantes se alimentam de tempo, é impressionante.
Me despedi dele sentindo uma quenturazinha gostosa no peito. Um sorriso meio lesado escorrendo pela boca.
Será?
O meu carro ainda não tem som, mas eu peguei a BR de volta ouvindo, de algum lugar, juro, uma canção de uma peça/filme* que eu adoro.
Trusting desire, starting to learn
O sorriso já tomava toda a boca
Walking through fire without a burn
Será mesmo?
Clinging - A shoulder a leap begins
Stinging and older, asleep on pins

E engatei a quinta, correndo feito doido, com uma alegria de criança em véspera de Natal.
Ninguém pode me acusar de nada, eu avisei que sou um desastre! E ainda assim ele decidiu pegar na minha mão.
E isso é bom, né?
So here we go
Now we
Go.


*Gente, a música chama-se I should tell you, e faz parte da trilha do fabuloso musical RENT, peça da Broadway que estourou nos EUA, virou filme e foi até montado do lado de baixo do Equador um tempo desses. Curioso? Saca, então:http://www.youtube.com/watch?v=yqN-xNUcJpQ

9 Comments:

Blogger Ricardo Mantler said...

David, a história aconteceu ou é só um conto?
Lindo, cotidiano, apaixonante. Muito próximo.
Adorei.
Aliás, você é uma figura interessantíssima.
Deve comer tempo à beça!

9:00 AM

 
Blogger Vitor said...

Ai que diálogo lindo! Bem adequado ao príncipio da descoberta do relacionamento! Me lembro das vezes, antes de me casar, em que eu ficava dentro do carro depois de ter passado num fastfood da vida!

6:21 PM

 
Blogger FOXX said...

david
historia perfeita
linda mesmo...

a br...



ps: naum quis mesmo me conhecer?
ok!

6:42 PM

 
Anonymous Anonymous said...

Linda letra...perfeita! Bjs pra ti

10:40 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Adoro! Eu também sou mega neurótica! eheheheheheh Beijoconas e obrigada pela visita!

8:46 AM

 
Blogger Alberto Pereira Jr. said...

história divertida

7:42 PM

 
Anonymous Anonymous said...

Nossa, adorei o seu blog. Linkado está! Eu tinha uma alma gêmea e não sabia...

11:21 AM

 
Blogger Chica said...

Engatou a quinta?
Tá maluco?
kkkkkkkkk
Se for mesmo a cara do Mauricio Mattar...ai
Cê tá lá no trocandos, também quem mandou nascer torto?

6:10 PM

 
Blogger Dawson said...

David,

Teu blog é apaixonante, li alguns post e já linkei entrei meus favoritos. Te encontrei nos links do Mantler.

Me diz uma coisa, vc é do nordeste? Não sei, mas acho que identifiquei alguns regionalismos na tua escrita.

Um abraço,

2:18 PM

 

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