Um lugar para os que são, os que ainda não são e os que não vão chegar a ser, conversarem e trocarem experiências.

Tuesday, November 22, 2005

Felizes Juntos




- Amor...?
Motel. Eu deitado no peito dele. Ele, fazendo carinho na minha cabeça. O mágico “silêncio do depois”.
- Uhm...
- Tá acordado?
- Claro, né, lesinho? Pensa que a minha mão é à pilha?
- Eita, cavalo, também não falo mais.
- Não, bêbê, fale...
- Nem. Você estragou o momento.
-...
- Amor?
- Oi.
- Quer casar comigo?
- Agora? Vixe, mas será que tem loja pra alugar terno aberta 24 horas?
- Não, doença. Não agora, algum dia. Quer?
- Eu quero.
- E o casamento da gente vai ser como?
- Bem bonito. Mas moderno. Na praia. Com muita luz, barman, drags, cuspidores de fogo...
- ...música techno.
- Sim! Música techno!
- Amor, vai ser uma casamento, não uma rave!
- Ah, é mesmo. Mas as coisas não precisam ser tão tradicionais, né?
- Sim, mas gente cuspindo fogo...
- Um pouco demais. É verdade.
- Mas se você faz tanta questão de gente cuspindo fogo a gente chama a sua mãe. Quando ela nos vir casando...A gente nem vai precisar pagar.
- Pega aí um toddynho do frigobar pra cortar o seu veneno,pega...
- Desculpa, Mô, foi mais forte do que eu.
Silêncio. Só o barulho do ar condicionado.
- Amor...
-Uhm...
- Vai ter aliança?
- Onde?
- No casamento da gente.
- Gosto muito não, fofo.
- Mas casamento sem aliança não tem graça.
- Será que ainda fazem aqueles doces com aneizinhos?
- ...
- Brincadeira, menino!
- Tá. Mas quem vai celebrar?
- Assim, eu, por mim, chamava uma drag.
- Porra de drag! Vai gostar de drag assim no inferno. Eu já tô é com medo, viu?
- Ah, você estragou a surpresa! Eu ia pegar ali no carro uma calcinha fio-dental pra você usar pra mim.
- Meu filho, amor tem limite, viu? Além do mais, como você pôde ver, eu não depilei a minha bunda.
- Iécotchi. Ô timing! Você sabe mesmo o que dizer, viu?
- Sou mau. Au, au.
- É o quê?
- Nada. Uma besteira que passa na MTV.
- Assisto não.
- Eu sei. Você é um dos poucos que eu conheço que não gostam das divas do pop.
- Que divas?
- Britney, Cristina, Beyoncé...
- Meu filho, diva, diva, com “d” maiúsculo eu só conheço uma: Madonna! O resto...
- Ah, mas hoje ela tá uma senhora.
- O tempo passa pra todo mundo, meu lindo. Ou você acha que a minha bunda vai tá sempre em cima? Que meu cabelo vai tá sempre aqui?
- Têm uns que já debandaram, né?
- Rá..rá..rá....
- Amor?
- Oi.
- Jura que fica comigo?Até o fim?
- Até valer a pena.
- Me poupe de sinceridade às três da manhã!
- Juro.
- Assim tá melhor.
- E a gente vai morar em casa ou apartamento?
- Casa. Pequena. Mas com um jardim grande.
- E cachorro?
- Dois. Um pra defender a casa e um cocker bem sem-vergonha pra gente.
- Gostei. Uma casa pequena, com uma cerca viva. De que cor?
- A cerca?
- A casa.
- Creme.
- Creme. Ou azul-clara.
- Nem, azul não! Fica parecendo uma creche – a voz dele já soava baixinha, como um susurro.
- Tá bom.
Ele calou-se por um instante e depois falou, num susto:
- Mel. O nome do cachorro pode ser Mel. Não o que guarda a casa, o outro. Ninguém ia ter medo de um Mel, né? A não ser que fosse um dog alemão...né? Amor?
O outro roncava ruidosamente. O que ainda permanecia acordado abraçou-o mais forte.
- Num me deixe nunca, viu? Você foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Como num conto de fadas, o que dormia despertou.
- Que era? Eu tava roncando alto?
- Ah, era você? Eu jurava que tinha uma britadeira no quarto ao lado.
- Rá..rá..rá...
- Volta a dormir.
- Faz carinho na minha cabeça?
- Faço.
- Ei.
- Oi.
- Você também.
- Eu também o quê?
- Você também foi a melhor coisa que já me aconteceu.